Cachês dos artistas do São João de Pernambuco chegam até R$ 1,2 milhão; veja ranking
Com a chegada do mês de junho, o clima junino toma conta de Pernambuco, e junto com ele vem uma das maiores movimentações culturais e econômicas do estado. Os festejos de São João movimentam milhares de pessoas, impulsionam o turismo e geram empregos temporários. Porém, um ponto tem chamado a atenção neste ano: os valores pagos aos artistas para se apresentarem nas festas promovidas pelas prefeituras. A cifra mais alta chegou a impressionantes R$ 1,2 milhão, levantando questionamentos sobre a origem desses recursos e o impacto dessa escolha nos cofres públicos.
Os altos valores pagos às atrações musicais são provenientes, em sua maioria, dos cofres municipais. Em outras palavras, os cachês são pagos com dinheiro público, vindo diretamente das prefeituras que organizam os festejos. Isso tem gerado uma onda de discussões entre a população, especialmente em cidades que enfrentam problemas estruturais como saúde precária, falta de investimentos em educação e saneamento básico deficitário. O contraste entre as prioridades municipais e os valores pagos em shows se torna ainda mais gritante em locais com orçamento apertado.
Artistas populares do cenário nacional lideram o ranking de cachês mais altos. As grandes estrelas do forró, do sertanejo e do piseiro se destacam como as principais atrações, o que impulsiona os valores pagos pelos shows. No topo da lista estão nomes que dominam as paradas musicais e reúnem multidões por onde passam. A justificativa das prefeituras é que essas apresentações atraem turistas, movimentam o comércio local e geram retorno financeiro para os municípios. Porém, a falta de transparência em muitos contratos preocupa especialistas em gestão pública.
Muitas dessas apresentações envolvem estruturas grandiosas, equipes técnicas, logística de transporte e hospedagem, o que encarece ainda mais o investimento. A estimativa total do que será desembolsado com os eventos juninos em Pernambuco ultrapassa a casa dos milhões, considerando todas as cidades envolvidas. Alguns municípios chegaram a comprometer boa parte do orçamento anual em poucos dias de evento, o que pode comprometer investimentos futuros em outras áreas essenciais da administração pública.
Apesar das polêmicas, o São João segue sendo um dos principais eventos culturais do estado. Sua importância histórica e identidade popular são inquestionáveis. A celebração representa uma herança cultural que resiste ao tempo e às transformações sociais. No entanto, o debate sobre a responsabilidade no uso do dinheiro público se faz cada vez mais necessário. O equilíbrio entre valorização da cultura e gestão financeira eficiente é fundamental para que o evento continue sendo motivo de orgulho, e não de crítica.
A população, por sua vez, se mostra dividida. Muitos defendem as festas como direito do povo e celebram o retorno das grandes programações após anos de pandemia e restrições. Outros, no entanto, veem nos gastos uma oportunidade perdida de investir em políticas públicas mais estruturantes. A cobrança por mais responsabilidade fiscal se intensifica, principalmente nas redes sociais, onde os valores dos cachês viralizam e ganham repercussão nacional.
O Ministério Público de alguns estados já começou a investigar possíveis excessos nos contratos artísticos firmados pelas prefeituras. Em anos anteriores, algumas apresentações chegaram a ser canceladas por recomendação legal, justamente pela incompatibilidade entre o valor pago e a situação econômica do município. Em meio a tudo isso, cresce o movimento por mais transparência nos gastos com eventos culturais e a exigência de que esses dados sejam disponibilizados de forma clara para a população.
No fim, a celebração do São João permanece como um marco no calendário cultural de Pernambuco. Mas a discussão sobre quanto se paga por isso está longe de terminar. O debate é necessário para garantir que a festa continue sendo um patrimônio do povo, sem sacrificar a qualidade de vida e os serviços essenciais dos municípios. O equilíbrio entre festa e responsabilidade pode ser o caminho para um São João ainda mais forte, justo e representativo para todos.
Autor : theodor sturnik